segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Desfiar na métrica
Uma ambição lírica
Fazer parecer rimar a música
Repetindo a tônica
Num exaurir silábico
Encaixar qualquer palavra flácida
Simular, com a voz, um falso êxtase

Emitir, enfático
Com o corpo em frêmito
Elencar em versos todo o léxico
Em tom de barítono
Sobre um gozo harmônico
E pose de quem detém a fórmula
Entoada em proparoxítonas

Exibir a lâmina
Fina de vocábulos
Afiada em anos de gramática
E um domínio único
Do saber melódico
De deixar embasbacado o público
E compor um disco cacofônico

Alcançar o píncaro
Da arte performática
Imortalizado em foto histórica
Da plateia, a dádiva
Da resposta uníssona
Numa devoção quase litúrgica
Própria de uma massa histriônica

sco cacofcado o p
Mesmo a mais tísica
Das frases inválidas
Pode se passar por dom sinfônico
E, ao tentar ser vívida
Recair num lívido
E causar no ouvinte uma dor nevrálgica
Revelando a máscara do cínico


(Mateus Borba)

2 comentários:

  1. Poesia: 1970

    Tudo o que eu faço
    alguém em mim que eu desprezo
    sempre acha o máximo.

    Mal rabisco,
    não dá mais para mudar nada.
    Já é um clássico.

    Paulo Leminski

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  2. hey, o que aconteceu que nada mais aconteceu por aqui? :/

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