terça-feira, 12 de abril de 2011

Todas as tardes, quando o sol prepara seu mergulho no mar, ela sente saudades. Por isso ela telefona quase sempre. Diz que seria melhor se fosse menor a distância, e que sempre passa o mesmo perfume antes de ligar: "É pra parecer que te vejo", diz com ares de sorriso. Fala sobre como está o céu e lembra de como ele se vestia na noite em que descobrimos nossos nomes. "Será que hoje será a mesma noite?".

Ela diz que não sabe o que fazer: se arrisca aquele emprego ou se espera alguma surpresa - as surpresas sempre lhe foram favoráveis. "Como a gente", deixa escapulir com timidez.

Uma vez, ela me disse que gostava das minhas mãos, de como elas diziam tanto sobre mim, e que nossas mãos ficavam muito bem abraçadas.

Quando chega a hora de desligar, há sempre o mesmo ritual: trocamos palavras que nós inventamos e ficamos alguns minutos em silêncio, ouvindo apenas nossa respiração. Nunca dizemos "tchau". É assim que nos despedimos, e é assim que nos deixamos guardados um no outro até o próximo encontro.

Às vezes ela prefere não ligar, aquece o corpo e o sorriso reacendendo nossas lembranças. E eu fico pensando nela enquanto o sol se despede.


(Mateus Borba)

2 comentários:

  1. O final, fez tudo ainda mais bonito :)
    É triste e bonito e muito mais bonito que triste ... ou não? ...

    Pelo menos há presença na ausência também

    beijos ...

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  2. Que coisa linda, Teu!
    Há muito sentimento nessas palavras... lindas palavras!

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