Ouvia que o
melhor era largar de lado aquela graça inútil de brincar de poesia, coisa de
gente que não quer nada com a vida. Mandavam que deixasse as palavras
passarinharem noutros galhos, grassarem em versos noutros cantos, porque ali, naquele
mundo ao qual pertencia, só o esforço dos braços e os pés ligeiros tinham valia.
Mas menino é
feito de vento e outros sonhos.
Achava
bonito ver as coisas, e ver as coisas dava nele uma vontade de dizer. Entre uma
sombra e outra, queria explicar que o cheiro que sentia era de
brinco-de-princesa namorando passarinho; que a cor do jardim era de alegria de
flor com cobertura de sol; que comer fruta no pé era igual lamber segredo.
Cirandava
por aí carregando fome de beleza. Não queria ter braços fortes e pés ligeiros,
só mais alma para caber tudo que via.
Um dia,
esticado debaixo duma sangra d’água e se enxerindo no fuxico do rio, resolveu
olhar para longe. Tudo era tão imenso ao seu redor e ia tão além, que sua
vista, por mais que se esticasse, não conseguia alcançar: era beleza para mais
que o tempo de uma vida.
Doeu nele um
querer que não cabia, e era querer ser maior do que o mundo que lhe diziam ser
o único possível. Amiudou. Tinha natureza de bicho que voa, e aquele aperto de
alma era de se saber só um menino.
Voltou para
casa farto de grandeza. Pela sua respiração, era visto que carregava um
espanto.
*_*
ResponderExcluiressa fome que não passa...<3
ResponderExcluiressa fome que não passa...<3
ResponderExcluirMe emocionei... bateu saudades... é num espanto que pude te ver carregado de poesias. Quanto tempo se passou, já não tenho contas. Mas te reconheço nestas palavras. Beijos.
ResponderExcluirMe emocionei... bateu saudades... é num espanto que pude te ver carregado de poesias. Quanto tempo se passou, já não tenho contas. Mas te reconheço nestas palavras. Beijos.
ResponderExcluirMe emocionei. bateu saudades. Foi num espanto que te vi carregado de poesias. A celeridade da vida roubou minha poesia. Senti saudade de um pedaço de mim. Beijos.
ResponderExcluircheiro, bonito
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